17.12.11

For you, with love. ♥ (parte VII)

"(...) Temo que todas as palavras que escrevo não passem de fragmentos de uma confissão. Fico sempre com a sensação que falta o essencial, que o mais importante ficou por dizer. Preciso de me sentar todos os dias ao computador e escrever, quase compulsivamente, mesmo que não tenha um livro em mãos. Habituei-me à companhia das palavras, ao silêncio da casa, ao mar da minha janela (...) Não é vontade, é necessidade. É por isso que os músicos tocam, que os pintores pintam, que os escultores esculpem: porque precisam. (...) O que eu queria era ficar contigo todos os minutos possíveis, como acontece aos apaixonados, mas também queria fazer tudo bem feito e por isso contive-me, deixando o momento respirar e sonhar contigo acordada, desejando que fizesses o mesmo. Desejei ardentemente estar à tua altura. (...) Porque o amor é mesmo isto; olhamos para o objecto amado no pedestral onde nós o colocámos, como um sonho impossível, uma nuvem que quase se consegue tocar, uma imagem à qual queremos ascender, uma miragem na qual desejamos mergulhar para sempre. Apaixonamo-nos para nos podermos elevar do mundo como ele é, dos seus cinismos e da sua brutalidade inevitável. O amor serve para voar por cima das coisas más. O amor transforma is homens em heróis e as mulheres em fadas. E o meu amor por ti dá-me asas para sonhar, arriscar, descobrir, rir, sentir e, mais importante do que tudo isso, escrever. Os poetas falavam das musas porque eram homens. Se fossem mulheres, teriam certamente os seus musos, como tu. (...) Muitas vezes adormeci com o telefone na mão, como se estivesses deitado ao meu lado, ali mesmo, na minha cama, a respirar o cheiro da tua pele. (...) Sempre me achaste graça, sempre te derreteste com as minhas histórias, as minhas piadas, as minhas palavras, com a minha forma própria de encarar o mundo e enfrentar a realidade. Lembro-me do teu olhar fixo, pousado nos meus joelhos, na terceira e última noite antes da tua partida. (...) Onde estás, meu querido? Porque trocaste as nossas conversas pelo silêncio? Porque te escondes atrás da distância, depois do que vivemos juntos? (...) Tenho saudades desses dias em que vivi como um sonho, sabendo que a realidade era bem diferente, que na semana a seguir à tua partida iria cair do céu aos trambolhões e o meu lado racional e cartesiano- que afinal também tenho, não é espantoso?- iria começar a pôr tudo em causa. Quanto mais estava contigo, mais me sentia em casa. Nunca a companhia de alguém me deu tanta paz, tanta tranquilidade. E nenhum de nós acha que o outro é perfeito, se calhar por isso é que víamos a nossa relação como perfeita, feita de um entendimento alquímico impossível de fabricar, que só não era possível porque vivíamos em países diferentes. Mas mesmo assim, quis sempre estar contigo e aproveitar todos os momentos, porque acreditava em ti, em mim, em nós, apesar da distância, do medo, apesar de tudo. Como posso explicar-te que a distância não é ausência, como posso fazer-te entender que o que sentimos um pelo outro é o suficiente para mim, que não preciso que mudes a tua vida, que venhas viver para Portugal, que estejas todos os dias ao meu lado para me sentir feliz? Como te posso convencer que as relações têm vida própria? Mas tu és como eu, teimoso, obstinado, agarrado às tuas convicções, porque é nelas que te apoias nos momentos mais difíceis, quando as tuas duvidas crescem como monstros dentro da tua cabeça e fazem sombra aos teus sonhos e certezas. (...) É raro conseguir dormir uma noite seguida, é raro não acordar antes da madrugada e sentir no ar o teu cheiro. Depois desse sobressalto, às vezes a meio de um sonho contigo, um sonho em que conversamos ou passeamos por outras cidades, o sono tarda em voltar e é nesses momentos que me sinto mais triste e revoltada. O teu silencio tomou-me os dias e todos os dias tento aprender a viver com ele. Tento convencer-me de que, como todos os homens, és livre e podes escolher o que queres para a tua vida. Tento não pensar naquilo que me é impossível de entender, que é alguém ter o amor entre as mãos e deixá-lo escorregar como água. Existiu sempre uma força que me impeliu na tua direcção. Chama-lhe intuição ou teimosia, chama-lhe carência ou vontade, chama-lhe loucura ou sabedoria, chama-lhe desejo ou protecção, porque nessa força imensa havia um pouco de tudo. (...) Durante o dia, enquanto a luz alimenta o meu trabalho, consigo aceitar esta realidade, mas à noite o sonho é mais forte e a cabeça é dominada pelo coração e por isso choro, choro muito, com muitas saudades tuas. (...) Tenho muitas saudades tuas. E saudades do tempo em que confiávamos um no outro e sentíamos que estávamos no mesmo barco, porque mesmo longe, queria-mos ajudar, proteger e apoiar o outro em tudo, de uma forma incondicional e total. (...) Sei que um dia voltarás a caminhar ao meu lado pelas mesmas ruas de sempre, onde há portas de casas mais baixas que nós e a luz amarela dos candeeiros antigos protege os amantes e os seus sonhos ainda e sempre por realizar. O teu feitio tranquilo e conciliador vai encontrar uma forma subtil de aproximação. Partilharemos segredos e medos, mergulharemos num mundo só nosso que nunca saberemos se ainda existe ou não, com a profunda convicção de que há coisas que nunca mudam, mesmo que já não existam. Acredito que, mergulhado no silencio, conseguirás ouvir a minha voz que sempre te tocou e, apesar da distância, sentirás a minha cara encostada nas tuas costas e os meus braços à volta do teu peito amparando-te o caminho, o meu olhar protector e a pedir protecção, o calor do meu corpo encostado ao teu e à nossa volta, como uma bênção divina, aquele véu de esperança que afinal nunca se perdeu. Até lá, e porque a vida nunca é como imaginamos, espero por ti sem esperar (...)" 

Margarida Rebelo Pinto - Diário da tua ausência. 

5 comentários: