18.10.11

when the door closes.


O cheiro de mais uma tarde em que nada serve de refúgio a não ser o teu próprio espaço. Os teus olhos já não vêem certezas em nada e o que define isto, não define nada lá fora. O que aqui entra só aqui se mantém e, tudo o que realmente és, só tu vês. O teu passado pode ser um escudo que te protege, ou então que tu proteges. Não o pises, sem ele não és nada. Não o carregues, porque em breve deixarás de aguentar com todo o peso que ele tem. Tu és tu, mesmo quando te olhas ao espelho e não te reconheces. Tu és tu, mesmo quando te vês reflectido e não sabes de nada, não sabes o tempo, o espaço e ainda por cima, desconheces o que vês, o que te rodeia, o que te define. Tu és tu, por mais que chores, que grites, que sofras, que te refugies, tu és tu e não ganhas nada, não acrescentes nem mais um travessão, nem mais um ponto. Nem o vento, nem a chuva, nem o sol, nem mesmo o calor te conhecem. Os olhos a brilhar, os teus vícios, os teus momentos, as tuas coisas, quem conhece? Ninguém. Ninguém te ajuda, ninguém te levanta, ninguém te dá uma mão e, depois? O que fazes quando olhas estupefacto para o chão e reparas que pisaste todos os restos que ainda tinhas e que, agora, se não os tivesses pisado poderias utilizar para te levantar? Como dizes que já não te reconheces? Como explicas que já não tens nada? Como admites que pela primeira vez, tu erraste, tu falhaste? Como recuperas o que não tem forma de ser recuperado? Como olhas a tua volta? Com vergonha, desmoralizado? Não temas mais nada, fecha as janelas e as portas, apaga as luzes e as velas, já nada te resta, tu não vês nada a não ser o teu corpo desfalecido, cansado, envelhecido. Então esconde-te, não percas mais tempo com o sol, com o calor, com os dias bonitos que para ti são dias de trovoada, não, não percas mais tempo e desliga o botão. Desliga-te e, se te baterem à porta, limpa as lágrimas frias e geladas, levanta-te, faz a cama em segundos, abre a janela, caminha fingido que ainda andas bem, prepara-te para consolares quem aí vem pois ele vai querer a tua tão preciosa ajuda, faz o teu melhor sorriso e diz “eu estou bem e tu, como estás?” ; prepara-te, pois daqui em diante todos os dias usarás a mesma máscara. Quando já ninguém precisar de ti, fecha a porta outra vez, pousa a máscara na cómoda e dorme sobre quem tu nem sequer sabes quem é. 

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